O despertar, por Cris
Lavratti
Não sabia
para onde ir. Seus olhos mergulhados na alma, não transbordavam mais as
lágrimas que antes inundavam seu rosto.
Elisa
finalmente se conformara com a separação. Buscava respostas. Mas não elaborava
bem as perguntas. O mundo visto de fora para dentro, era ilusório. Não
adiantava insistir. Ela só iria perceber a verdade, ao mudar de ângulo.
Não sabia,
ao certo, onde se encaixava no quebra cabeças de sua própria história.
Vislumbrava o passado, a infância, os pais, os amigos da escola. Como em um
filme antigo colorido a mão, ela se via feliz, brincando, espontânea e
sorridente.
Continuou.
Lembrou da faculdade de economia, das noites em claro estudando, das festas e
de quando o conhecera. Seus olhos brilharam novamente. João era vida para ela.
Cabelos ao vento, riso largo, mãos íntegras e um perfume avassalador. Eles se
entendiam pelo olhar. Era mágico.
Ah... João.
Onde foi que esse brilho se perdera? Pensava ela com o coração. Ainda o amava e
por isso o deixara ir. Mas a saudade insistia. Mesmo conformada, a esperança
lhe era amiga. A saudade poderia ser somente uma vírgula, não um ponto final.
Sua vida se
resumia em trabalho, leituras e terapia. Precisava se encontrar de novo para
dar o próximo passo. Mas em meio à tristeza que lhe consumia, era difícil achar
uma saída.
Foi quando,
inteiramente imersa em seus livros, no precipício de si, sentiu algo novo, como
um despertar profundo. Abriu os olhos e percebeu que ainda estava viva.
Ela
finalmente se reencontrara com sua essência. Sentiu que deveria se permitir, ir
mais além. Um insight. Entendeu que
tudo aquilo que via em João, era uma projeção dela mesma. Eles eram iguais na
forma de encarar a vida. Não era só ele que brilhava. – Ela também era uma
estrela.
E agora, o
que fazer com essa descoberta? Pela primeira vez, depois de muitos anos, sentiu
um sorriso no canto da boca e deixou que ele tomasse conta por inteiro.
Sorriu,
chorou! As lágrimas voltaram a rolar. Mas agora era diferente. Elas estavam ali
para curar uma ferida. A dor aos poucos se desfazia e abria espaço para o amor.
Amor próprio.
Ela se
abraçou. E entregou-se com coragem à sua própria consciência. Entendeu que a
dor faz parte da vida, mas que a responsabilidade era dela. Enfim, seu mundo
estava desvendado novamente.
Elisa achara a resposta.
Agora era com ela. Percebeu que a escolha partia dela, que a dor partia dela e
que o amor também partia dela. Respirou fundo e seguiu em frente, com um novo
olhar, o coração aberto e as mãos cheias de perdão.
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